AQUI TEM VANDA: A trajetória de Ivânia Pereira, a primeira mulher eleita para um mandato em Pirambu, sendo hoje uma das mais expressivas lutadoras do povo sergipano

AQUI TEM VANDA: A trajetória de Ivânia Pereira, a primeira mulher eleita para um mandato em Pirambu, sendo hoje uma das mais expressivas lutadoras do povo sergipano

Neste aberto artigo, vamos tentar dar luz aquela cujo exemplo tem inspirado milhares de contemporâneos

“Quem trás na pele esta marca possui a estranha mania de ter fé na vida” (Milton Nascimento)

  • Por ClaudOmir Herzog | claudomir21@gmail.com

A trajetória de Ivânia Pereira da Silva se confunde com a história de Pirambu, onde viveu os momentos ternos de sua existência, construindo nesta cidade uma das mais belas páginas e daí credenciando-se como una das mais expressivas lutadoras do povo sergipano. Aqui “contaremos” a sua história em partes que esperamos se completar, naturalmente que sem nenhuma intenção de esgotar o tema, o qual está aberto as contribuições dos leitores e, necessariamente chamando novas e indispensáveis edições. A filha de seu Andrade e de Dona Diva ampliou seus conhecimentos para além de lições dos pais, na Escola Rural Fleixeiras, povoado onde nasceu na década de 1960. Daí deu sequência aos estudos primários no Grupo Escolar José Amaral Lemos [1] em Pirambu, cidade para onde veio ainda criança e concluiu o 1° Grau [2] no Ginásio Municipal Professor Emiliano Nunes de Moura, em Japaratuba, já que no incipiente município emancipado só era ofertado o ensino básico até às séries iniciais (1ª a 4ª séries). Foi a partir daí que precisou ir morar na capital, Aracaju para cursar o 2° Grau [3] e em seguida o curso de Serviço Social na Universidade Federal de Sergipe (UFS), sem nunca perder o vínculo com a cidade adotada pela família para se estabelecer. Em casa era chamada carinhosamente de Bambinha pelos irmãos Vanderley, Elizabeth, Maria de Lourdes e Elizeth, estendendo-se para os que orbitam em seu ciclo mais próximo. Já pelos colegas de escola e vizinhos era chamada pela alcunha de Vanda, aliás Derley, Lêda, Dilu e Elis ou Lizete também coube ao irmão e irmãs

Inspirada no exemplo do pai, que compôs a primeira legiatura de Pirambu emancipado a partir 26 de novembro de 1963, eleito vereador na eleição realizada em 1965 quando é concluído o processo de instalação, Ivânia se iniciou na atividade política em memoráveis lutas estudantis, imbuindo-se pela reabertura do Diretório Central dos Estudantes (DCE/UFS), ampliando para a luta sindical como bancária do Banco do Estado de Sergipe, já no início da década de 1980, ingressando no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) ainda na semi- clandestinidade, participando ativamente da campanha pela redemocratização do país e pelas eleições diretas para Presidente da República. Ivânia já atuava nos “bastidores”, participando das campanhas de Seu Andrade que alcançou seu segundo mandato de vereador em 1976 e na disputa para prefeito em 1982 pelo PMDB [4]. Ivânia “aprendeu pelo exemplo”, como teria classificado o líder sul-africano Nelson Mandela, de saudosa memória, se a tivesse conhecido.

Abrir um “oarwnrese” para o visionário Andrade_

João da Silva, o popular Seu Andrade, que além de vereador por dois mandatos, foi presidente da Colônia de Pescadores Z5, promovendo naquela entidade associativa uma producente gestão, instalando na sede da Casa do Pescador uma creche para atender às famílias pirambuenses, independente de filiadas ou não. Um dos principais protagonistas pela Emancipação Política, o visionário pai de Vanda fundou uma panificação na cidade, gerando emprego, renda e diversificando a segurança alimentar da população

Plantando as sementes

Até eleger-se a primeira mulher para um cargo eletivo em Pirambu, Ivânia foi incansável na organização do seu partido em Sergipe, fazendo chegar a classe trabalhadora o jornal Tribuna da Luta Operária, distribuindo seus exemplares em portas de fabricas, repartições públicas, agências bancárias, escolas, universidade faculdades [5], centro comercial e pontos de ônibus. Já consolodada como um quadro dirigente do partido, militante de base com inserção social em várias frentes de luta (juventude, mulheres, trabalhadores rurais, pescadores, bairros, etc.), ajudou a instalar o PCdoB em Aracaju, Brejo Grande, Socorro, Carmópolis, Japaratuba, Pirambu e mais outras cidades. Foi peça chave na organização das frentes de massa e coletivos partidários, ajudando a organizar em nosso estado a União da Juventude Socialista (UJS), a Corrente Sindical Classista – núcleo embrionário para a fundaçao da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a União Brasileira de Mulheres (UBM), das quais foi dirigente.

■ Entrando para a história de Sergipe 1

Com tais credenciaos e predicados, Ivânia já teria seu nome cravado na História de Sergipe, como uma das mais brilhantes cidadãs de sua geração, mas não paramos por aí. Ivânia intercalou suas múltiplas tarefas com a ativa mobilização dos pirambuenses sendo expressão transitória de uma vontade cetiva, contribuindo para juntar a dispersa oposição [6] e construindo uma candidatura competitiva para disputar a prefeitura, elegendo-se a primeira vereadora do PCdoB em Sergipe, pelo município de Pirambu, integrando uma bancada de oposição que contava com quatro em nove parlamentares [7], sendo ela uma “pedra no sapato” daqueles que se imaginavam literalmente os “donos de Pirambu”.

■ Um mandato em sintonia com a multiplicidade

Falar sobre o mandato da primeira vereadora da história politica de Pirambu renderia vários textos, divididos em vários capítulos, tamanha a proficiência deste momento que ficou impresso nas “páginas amarelas” e nas memórias de quem o testemunhou. Não estava nos planos dos “donos de Pirambu” está agradável surpresa que lhes tirou o sono. Seu mandato foi um farol para a juventude, a voz da cultura, o elo com o meio ambiente, a luz dos caminhos políticos e a marca da resistência em tão curto espaço de tempo. Sobre estas passagens, destacaremos em publicações complementares.

■ Entrando para a história de Sergipe 2

Avançaremos neste testemunho para um registro que se faz necessário, pois quem não o fizer estará omitindo uma parte considerável da história do movimento sindical em Sergipe. Ao lado de valorosos companheiros e companheiros, lembrando aqui de Pureza e Souza, de Dudu e Marcelo, iniciou sua atuação política no movimento sindical bancário, participando da oposição no SEEB Sergipe, integrando depois a Federação dos Bancários da Bahia e de Sergipe, organizando a instância estadual da Corrente Sindical Classista e nos últimos anos na construção da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). São 40 anos de militância sindical, acatapultando como consequência e desigualdade a primeira mulher presidente do Sindicato dos Bancários de Sergipe.

“A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não”. (Maria Betânia)

  • ClaudOmir Herzog (53) é historiador e testemunho ocular da História de Pirambu. Coordenador da RPCA Sergipe (Rádio Atalainja e Tribuna da Praia

Notas:

[1] Era essa a denominação do atual Colégio Estarual José Amaral Lemos quando de sua fundação em 11 de março de 1970.
[2] Antes integrado pelo Primário (1ª a 4ª séries) e Ginásio (5ª a 8ª séries). corresponde ao atual Ensino Fundamental
[3] Correspondente ao atual Ensino Médio.
[4] Período em que os comunistas do PCdoB atuavam no MDB desde o bi-partidarismo instituído no Brasil a partir de 1976.
[5] Na primeira metade da década de 1980, existia apenas uma universidade em Sergipe, a UFS e as faculdades Tiradentes e Pio X
[6] Eram cinco grupos políticos em Pirambu, sendo quatro de oposição.
[7] Até 1982 eram cinco os integrantes da Câmara de Vereadores.

Fotos: Divulgação e Acervo Seu Bebé

 

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