Compartilho com vocês, para leitura, um pouco dos meus devaneios noturnos. ( José Ailton Santos)
Você só conhece de mim
o que minhas vestes não encobrem
– não me tens mais desnuda –
o que te mostro define a fronteira.
Aprendi o carteado,
hoje dou as cartas,
sou jogador de pôquer,
faço cara de Monalisa.
Aprendi a me fechar por dentro:
as pernas,
as portas,
a intimidade.
Só sirvo a um deus,
[àqueles] que sabem
abrasar minh’alma.
Por isso,
não gaste seu sofisticado latim,
sou fiel e vou à missa,
[puro convencionalismo]
sei falar, mas não ouço bem.
Cansei de jogar,
cansei de correr,
cansei de me enojar,
cansei de me esconder,
cansei de me render [a ti],
cansei de enlodar minh’alma,
enquanto limpava o corpo.
Cresci,
amadureci,
tornei-me adulta.
As flores [d’antes] cintilantes, murcharam,
poupe a água e esforço
…
Pode partir!
Está dispensado!
[de coroa na mão e abatido]
Afastou-se de mim.
E quando o vejo partir:
desfaço-me,
evaporo-me,
liquidifico-me,
desmancho-me.
Quando te vejo,
dar as costas a mim,
vejo-me em estado de plenitude.
Tiro o véu e percebo, que não sou montanha,
sou planície, sou vale… efêmero ,
sou a parte mais frágil.
Apresso-me:
toco sutilmente seu ombro
e ao voltar-se a mim,
dou-te [novamente] a chave:
das pernas,
das portas,
da intimidade.
Convenço-me,
definitivamente,
“és meu infinito céu azul”.
José Ailton Santos | Panóptico (https://olharpanoptico.blogspot.com)