A História da saúde pública no Brasil se confunde com a própria luta dos brasileiros por direitos pétreos – uma constante luta pela cidadania plena.
Ao longo dos últimos 100 anos, nos reportamos a Revolta da Vacina, quando se acreditava que a imunização de brasileiros se trataria de um extermínio de pessoas, fruto do senso comum e ou da ignorância diante do alcance das políticas públicas de saúde.
De lá para cá, há muitos divisores de água, passando pelos serviços prestados pelas santas casas de misericórdias, aos hospitais regionais, que começaram a ser construídos nos vários rincões do Brasil, todos eles funcionando como espécie de extensão ou complementação do serviço público, cujos postos de saúde não atendiam a demanda, sejam pela insuficiência ou pela incapacidade dos sistemas que não eram interligados.
As políticas públicas de saúde começam a se encorpar entre as décadas de 50 a 60 do século XX, com o braço do estado alcançando as regiões mais longínquas do país, e aí entra a antiga SUCAM e depois a Fundação SESP, atual Fundação Nacional de Saúde.
Aqui em Sergipe, só para ilustrar, foi a construção do Hospital João Alves Filho, na década de 80 que soergue a saúde pública em Sergipe – antes era o Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite (Hospital de Cirurgia – foto) quem servia de bálsamo dos sergipanos. No interior, hospitais como o Amparo de Maria (Estância), São José (Japaratuba) e São Vicente de Paula (Propriá), complementavam a oferta, atendendo pacientes dos municípios adjacentes. Estes hospitais chegaram as ruínas, sendo um deles (Propriá) adquirido pelo Governo de Sergipe.
O grande salto de qualidade das políticas públicas de saúde no Brasil foi a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) na década de 90. Esse modelo, no que pese as críticas pontais e quase todas todas elas fundamentadas, tem servido de inspiração para outros sistemas como de Assistência Social (SUAS) e de Cultura (SNC).
Nos últimos 60 anos, contrastando com o aumento de investimentos, a oferta de serviços cresce literalmente como “rabo-de-cavalo”, resultando em pacientes aguardando leitos e, pasmem, macas em panos espalhados nos pisos de hospitais.
Medidas eleitoreiras tem sido recorrentes e, não obstante atenderem temporariamente as demandas, mostram a fragilidade de nossos sistemas. O programa “Mais Médicos” é a mais sintomática prova, em que temos importados profissionais para preencher a lacuna em cidades que os “nossos” médicos se recusam a atender, reclamando de baixos salários, de falta de condições de trabalho e de infraestrutura.
Ainda que as informações aqui sejam empíricas, mas sustentadas por episódios de domínio público, encontram bases na farta literatura e em Sergipe temos exemplos como “As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios”, lançado em 2006 na Academia Sergipana de Medicina pelo médico Antônio Samarone de Santana.
O tema aqui sugerido e levantado nestas breves linhas de forma superficial nos estimulam ao estudo sobre o assunto, cuja relevância e alcance é incalculável.
por Claudomir Tavares ©2015 (1). É permitida a reprodução, desde que citada à fonte.
(1) Publicado pela primeira vez em 20 de abril de 2015.