Editorial: Derrotar o inominável, sim! Mas escolher mal menor, não!

Editorial: Derrotar o inominável, sim! Mas escolher mal menor, não!

Na reta final de seu mandato, Bolsonaro abriu os cofres e despejou uma série de medidas eleitoreiras, numa tentativa desesperada de reverter o rechaço cada vez maior da população.

Mas nem isso serviu para aplacar a crescente rejeição ao seu governo. Primeiro, porque o pacote eleitoreiro é ínfimo, comparado à crise que castiga a grande maioria da população, com 33 milhões de pessoas passando fome; desemprego em massa, mascarado por uma brutal precarização, e a renda despencando, ao mesmo tempo em que a inflação dos alimentos não arrefece e a carestia persiste.

Segundo, porque, ao mesmo tempo em que concede algumas parcas medidas com prazo de validade eleitoreiro, por debaixo dos panos Bolsonaro ataca a classe trabalhadora e os mais pobres.

Para manter os mais de R$ 19 bilhões do Orçamento Secreto aos políticos corruptos do Centrão, o presidente vem desferindo uma série de cortes em áreas como Saúde, Educação e moradia. O “Farmácia Popular”, que fornece medicamentos gratuitos à população mais pobre, perdeu 60% de seu orçamento. Já a Educação Básica perdeu R$ 1 bilhão, no orçamento de 2023.

No decorrer do governo Bolsonaro, a verba destinada ao combate à violência contra as mulheres também teve uma redução de 90%. O programa “Casa Verde e Amarela”, antigo “Minha Casa, Minha Vida”, perdeu nada menos que 95% de seus recursos, paralisando 140 mil obras de moradias populares. Isso para não falar do veto do Supremo Tribunal Federal ao piso da Enfermagem, atendendo às redes de plano de saúde privada.

■ Corrupção

A tempestade de más notícias sobre o governo inclui as mais recentes revelações sobre os 51 imóveis adquiridos, nos últimos anos, pelo presidente e seus familiares mais próximos, pagos à vista, em dinheiro vivo. Além de ser incompatível com o salário de Bolsonaro e sua família, comprar imóveis com amontoados de notas é notoriamente prática de bandidos, ou milicianos, a fim de não revelar a origem da fortuna. Em geral, ilícita; seja adquirida via “rachadinhas” ou outros crimes típicos desse setor mais marginal da burguesia.

A mentalidade corrupta dessa gente é tamanha que, mesmo a família possuir mais de 100 imóveis, o deputado Eduardo Bolsonaro foi pego recebendo irregularmente um auxílio-moradia de R$ 6.000,00.

■ Então, o inominável tem que sair. E já vai tarde!

Voto útil
No momento em que fechávamos esta edição, a chapa Lula-Alckmin realizava um ato público com ex-presidenciáveis, a fim de expressar sua frente amplíssima e a adesão de setores de peso do mercado financeiro. Henrique Meirelles, o banqueiro do BankBoston, ex-ministro de Michel Temer e pai do Teto de Gastos, posou ao lado de Lula, Alckmin e, também, de Guilherme Boulos e até de Luciana Genro, do PSOL.

No ato, Meirelles publicizou a sua adesão oficial à chapa Lula-Alckmin. Aproveitou os holofotes para defender uma “rigorosa” Reforma Administrativa; ou seja, ataques aos serviços e servidores públicos, além da privatização. O mercado financeiro, leia-se os banqueiros e investidores, receberam bem esse “reforço” à campanha e a Bolsa de Valores subiu quase que automaticamente.

Ninguém pode se dizer surpreso com as falas de Meirelles. O banqueiro compôs o primeiro mandato do governo Lula, quando, na presidência do Banco Central, ajudou a implementar a Reforma da Previdência. Depois, no governo de Michel Temer, impôs uma Reforma Trabalhista que alterou mais de 100 pontos da CLT.

Mas esse ato também marca outra coisa: a completa capitulação do PSOL à Frente Ampla e à unidade de Lula-Alckmin com a burguesia. Boulos abdicou de disputar a presidência, ou o governo de São Paulo, atendendo aos pedidos de Lula. E justificou sua adesão à Frente, dizendo que ela iria revogar a Reforma Trabalhista. Se Lula já desdisse isso faz tempo, com Meirelles o que se aponta não é a revogação, mas o avanço, num futuro governo, contra o que resta dos direitos, além de mais privatizações e ajuste fiscal.

Luciana Genro, da corrente MES, por sua vez, colocava-se como representante da esquerda do PSOL e, ao aceitar esse papel, mostra que apenas marcava posição interna, aceitando, de fato, o projeto da direção majoritária do PSOL, que um dia ela negou que fosse um “puxadinho do PT”. É adesão pura e simples à Frente Ampla lulista, com a burguesia e o imperialismo, onde mais uma vez a classe trabalhadora será sacrificada no altar do projeto capitalista aprovado pela Faria Lima, a avenida símbolo do poderio burguês, em São Paulo.

Vamos de Vera, 16!
O que chamam de “voto útil”, ou seja, o voto na chapa Lula-Alckmin para liquidar a fatura no primeiro turno, é um voto inútil para a classe trabalhadora. Isso porque ele não avança na consciência de classe, na organização e na mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras, os únicos que realmente podem derrotar, para valer, Bolsonaro e resolver o desemprego, a fome e a carestia.

Pelo contrário, a chapa Lula-Alckmin sinaliza à população que basta votar para tirar Bolsonaro. E pronto. E que os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras são os mesmos dos banqueiros, dos grandes empresários e do agronegócio. E não antagônicos.

Inevitavelmente, contudo, um futuro governo de aliança de classes vai atacar os trabalhadores, como o próprio Meirelles já vem adiantando, e o que pode restar é decepção, a desorganização e a desmoralização, caso não seja construída uma alternativa da classe trabalhadora, independente da burguesia, socialista e revolucionária.

Longe de derrotar o bolsonarismo, esse tipo de projeto de governo, que muda algo para que tudo continue igual, aduba o solo para a extrema-direita.

Derrotar Bolsonaro passa por resolver o desemprego, a fome e a carestia, além de todos os demais problemas que afligem a classe trabalhadora. E, pra isso, é preciso atacar os super-ricos e bilionários. Por isso, a tarefa neste 1º turno é apresentar, contra o inominável, uma alternativa de independência de classe, como faz o Polo Socialista e Revolucionário e o PSTU.

Nestas eleições, o voto no 16, na Vera, presidente,e na Raquel Tremembé, vice, é um passo adiante na construção desta alternativa socialista e revolucionária. Um passo adiante na luta para avançar a consciência, as mobilizações e a organização da classe trabalhadora. Valorize o seu voto e o utilize para fortalecer um projeto socialista.

  • Por Redação | Opinião Socialista

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