- Por Milton Pinheiro
O Brasil está vivendo uma quadra histórica de profundo caos político e desarticulação do papel do Estado numa sociedade radicalmente construída para ser desigual. Um país marcado pelo enriquecimento fácil e protegido para as frações da burguesia interna. Contudo, a marca indelével dessa conformação social tem como características a fome que atinge mais de 33 milhões de pessoas, o desemprego e desalento que crescem a cada dia, afetando mais de 25 milhões de homens e mulheres, e uma lógica de mercado que impede que a juventude possa ter uma chance no mercado de trabalho. Mesmo com esse cenário, o governo do agitador fascista Jair Bolsonaro tem agido politicamente para desestabilizar o ambiente das liberdades democráticas, com apoio irrestrito às ações das hordas neofascistas.
A aproximação do calendário eleitoral tem permitido ao governo burguês-militar de Bolsonaro e seus aliados operar um conjunto de ações de caráter golpista, avançando nas provocações às instituições da democracia formal brasileira. Trata-se de um ambiente político que está suscetível aos movimentos antidemocráticos que o bolsonarismo colocou em marcha juntamente com as hordas neofascistas da sua base.
Estamos correndo perigo de ruptura institucional à direita, com forte indicação de que se movimenta no submundo da política os porões do que restou da ditadura burgo-militar de 1964, o corpo fisiológico do parlamento, os negociantes da fé e sua pauta caricata, os repugnantes assassinos da juventude preta e periférica, as diversas milícias e toda espécie de escória que é apoiada por uma classe média negacionista, fracassada, perversa e reacionária .
O Brasil encontra-se, portanto, com as veias abertas e sangrando de forma perene. A violência política está sendo organizada através de uma metodologia que passa pela premeditação de ações criminosas. Bolsonaro tem convocado suas hordas para impedir a realização das eleições e, para isso, elabora um conjunto importante de armadilhas que são colocadas no caminho das instituições republicanas. O muro de contenção dessas instituições está inerte e sem coragem para operar o enfrentamento democrático necessário.
Enquanto o aparato oficial dos poderes da república claudica, a violência política avança de forma premeditada. A ciranda do neofascismo aprofunda seu papel com ataques e ameaças nas redes, violência física, atentados contra o líder das pesquisas eleitorais, alem de um conjunto nunca antes visto de vídeos que agem nas mais diversas redes para disseminar as fake News e, por fim, mais recentemente, assassinatos, a exemplo do caso de Foz do Iguaçu.
O aparato da violência bolsonarista está contando com uso indiscriminado de armas que cresceu assustadoramente no Brasil a partir da fraude dos clubes de tiro, do contrabando por fronteiras não fiscalizadas pelas forças de segurança do Estado, e pelo comércio clandestino ou tornado legal pelo governo burguês-militar de Jair Bolsonaro. A licença para matar foi decretada a partir da conduta bandoleira que o presidente da república estimula. Os quadros da esquerda, lutadores populares, populações fragilizadas no processo social e os comunistas estão correndo risco de morte com esse cenário político.
As frases de Bolsonaro, como por exemplo, “vocês sabem o que fazer” e outras dessa mesma ordem são senhas para a violência política de caráter fascista, à maneira das ASs (Sturmabteilung) do partido nazista. Veja o que foi operado pelo neofascista Rodrigo Amorim contra uma caminhada de militantes de esquerda no Rio de Janeiro. Já estão em articulação às ações armadas de perseguição contra os diversos atos da esquerda e dos movimentos populares. A campanha será violenta e os bolsonaristas, sejam os lobos solitários, as hordas dos clubes de tiros, PMs e outros integrantes do banditismo neofascista, estão com desejo de agir.
No campo aberto do ataque contra o Estado formal da democracia brasileira, o encontro com embaixadores, para trair o Brasil, foi um anúncio para o mundo da preparação de um provável golpe de Estado, que seria executado “por nós” (ele e o exército historicamente golpista que o país tem), afinal, como o golpista que dá plantão no Palácio do Planalto disse: “se o TSE não aceitar o papel dos militares não haverá eleições”.
Esse crime de responsabilidade cometido por Bolsonaro nessa reunião passou incólume diante dos poderes da república: o presidente da Câmara dos deputados, Arthur Lira, manteve-se em seu silêncio remunerado. O poder judiciário fez discurso de rábula, ou seja, não houve contestação oficial, o prevaricador geral da república manteve-se no silêncio de quem espera obsequioso uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), e o que sugere campo da esquerda que lidera a pesquisa eleitoral? Fugir das ruas para evitar o confronto e esperar solenemente o dia das eleições, numa estratégia de bom mocismo eleitoral.
A esquerda fora do campo da ordem deve ocupar as ruas para derrotar o neofascismo e o golpismo. Serão necessárias organização e forte mobilização; é preciso avançar na construção de um denso calendário, a partir de agosto, para incidir sobre a luta de classes que está em campo aberto nesse momento histórico.
Às ruas!
- Fonte: Jornal O MOMENTO – PCB da Bahia