Conto: Fragmentos de um Conto de Natal

Conto: Fragmentos de um Conto de Natal
  • por Nicy Alves

Quando dezembro chegava papai ficava eufórico, era algo mágico, os olhos dele brilhavam e suas emoções contagiavam a todos.

A mágica…

Mamãe, caprichava na faxina, dava brilho nas panelas, trocava os móveis de lugar, as plantas eram trazidas para dentro de casa e tudo se transformava, como se trocassem as peças de um tabuleiro…A nova casa aparecia.

Na manhã seguinte o destino de papai era certeiro, ia para o centro da cidade, comprava bolas coloridas, festão de todas as cores e claro, um enorme pisca pisca, com a garantia de lâmpadas extras, caso alguma delas queimassem na noite tão especial. Também comprava um pacote enorme de algodão. Talvez vocês estejam se perguntando, mas pra que algodão? Bem, sentem que a história está apenas começando, agora vem a melhor parte.

A caçada…

No dia seguinte, papai saia assim que o sol raiava. Destino? O verdejante manguezal da linda e bela Barra dos Coqueiros. Ele saia caminhando, escolhendo olho a olho a melhor árvore, ela tinha que ser perfeita. Após caminhar atolando-se na lama e pendurando-se nas galhas mais robustas, um verdadeiro contorcionismo, nosso herói não média esforços em busca do prêmio master. Enfim, quando o olho batia, as estrelas cantavam ao seu ouvido e diziam: “é essa!” E lá ia nosso herói, golpe a golpe na luta pela árvore perfeita!

A chegada…

A espera era recheada de muita ansiedade, colocávamos a cabeça a todo instante na porta, até que ele aparecesse lá na ponta da rua. Pés no chão, sujo de lama, um peso nas costas e um olhar cheio de esperança.
O sorriso tomava conta de todos nós que corríamos ao seu encontro na tentativa de ajudá-lo. Sentamo-nos na porta e ele começava a outra parte do prazeroso ofício. Com uma pequena faca, raspava minuciosamente todas as galhas da pequena árvore, até deixá-la completamente branca e, aparava milimetricamente todas as extremidades.

A Engenharia…

Tudo começava a ganhar forma, partíamos para a esteira que, previamente mamãe colocara no meio da casa e essa hora só perdia para o clímax final. Pedaço a pedaço de algodão era enrolado na árvore cuidadosamente, em cada pequena parte. O ofício prazeroso tinha sempre uma pitada de competição, esse era o recheio do bolo pois, todos queriam mostrar a papai quem era o mais caprichoso, o mais detalhista.

Assim que concluímos, cuidadosamente ela era posta em um pequeno balde de latão, cheio de areia e pedra e, embrulhado num colorido papel de presente que fora preparado anteriormente para receber a preciosa prenda.

O Grande final…

O festão por fim era enrolado cuidadosamente, para dar aquele visual de luz e magia. Tudo era tão lindo. O brilho ofuscante do encontro entre às cores as bolas que ao ser em penduradas refletia com primor o reflexo dos nossos rostos e, por fim o pisca pisca era espalhado, nessa hora mamãe tinha um olhar Clio, afinal de contas, toda a árvore tinha que ser iluminada e os pontos coloridos intercalados.
Ficávamos todos de pé e o canto estratégico da pequena cabana feita de argila tinha que ostentar tal belezura.
Era hora de ligar a tomada do pisca pisca. Os colegas da vizinhança que brincavam na rua eram chamados e, lá ia papai, todo orgulhoso, puxar a extensão.
Um meio círculo era formado em volta, nesse instante, o silêncio era total, parece que até a respiração dava prioridade ao fabuloso espetáculo, ficamos todos numa espécie de transe… As luzes se acendiam e a mágica do Natal acontecia!

  • Nicy Alves é poetisa, contista, escritora e membro da Academia Barracoqueirense de Letras e Artes.

1 comentário


  1. Quantas lembranças maravilhosas vc nos trás com os seus belos contos! minha escritora preferida!!

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