É tardinha. Observo atentamente meu pai a remendar os jererés – um excelente colaborador na pesca de siris (arco de madeira com uma pequena rede costurada em volta).
Imediatamente a ficha cai. Ao amanhecer iremos à salina, local que outrora foi uma grande produtora de sal na minha cidade. Certamente alegria será garantida!
A aventura começa. Era tanta coisa que levávamos que mais parecia uma mudança! Comida, água, panelas (essas serviam para cozinhar os deliciosos crustáceos que eram pescados).
Caminhávamos em fila indiana – papai, vovó, mamãe, meus quatro irmãos menores e eu. Vez ou outra, umas olhadas para trás para conferir se estava tudo em ordem com sua ninhada.
No meio do caminho, havia uma estrada chamada de muro – pequena elevação feita com a própria lama do local. Encontramos a primeira porta d’água e muitos de nós passávamos na maior facilidade.
– É só dá um pulo, minha filha! – dizia minha mãe.
Claustrofóbica de nascimento, eu optava sempre por descer do muro e arriscar um corte de ostra. Gostava de sentir meus pés no chão. Ao chegar ao local, o coração aliviava. A alegria e a ansiedade de colocar as linhas na água e fazer a aposta de quem pegaria o primeiro e o maior siri já era rotina daquele momento. A primeira meta era encontrar a vara perfeita para amarrar as linhas. Em seguida, uma pedra ideal para afundar a isca na água, um local estrategicamente pensado e, pronto, tudo perfeito! Era só esperar.
Minha mãe logo ia em direção aos buracos que havia na região, no qual vivia um peixe de nome “moreia” – seu preferido até hoje.
Papai era sempre o provedor. Garantia a sombra e acendia um pequeno fogo à lenha para garantir a primeira degustação.
Quando a linha era puxada por tamanha força, sabia de cara que o siri era graúdo. Entre risos soltos, declarava-me a vencedora mais uma vez.
A salina era bondosa e, para comemorar, fazíamos um gostoso passeio numa velha canoa que sempre estava à deriva na margem. Era como se o velho Eurico, antigo cuidador daquele mágico lugar, deixasse-a sempre à nossa espera.
por Nicy Alves