Por instantes, como um flash, vi duas lanchas cruzando o meio do rio (1)
- Por Nicy Alves
Ontem à noite, por uma casualidade do destino, estive debruçada sobre uma base de madeira onde outrora foi o Terminal Hidroviário de Barra dos Coqueiros.
Por lá, meus pensamentos vagaram no tempo e no espaço, como se eu estivesse em transe.
Olhei atentamente as brumas iluminadas pelas luzes oficiais da linda noite que me observava.
Por instantes, como um flash, vi duas lanchas cruzando o meio do rio. Passageiros curiosos trocavam olhares rapidamente.
Ouvi a buzina dos marinheiros, como se as duas lanchas falassem uma com a outra.
Uma das lanchas se aproximou do flutuante com a manobra profissional do comandante. Avistei um homem se aproximar da popa com uma grossa corda na mão. Na ponta, havia um laço.
Calça jeans, botas pretas, camiseta de algodão extremamente branca por dentro da calça – era notável que aquele homem tinha uma esposa zelosa. Num gesto rápido ele jogou a corda e acertou de primeira o ponto de atracação. Puxou a corda por uma abertura na parte inferior e a prendeu, trazendo assim à posição.
Ele retornou, mas pessoas aglomeradas na saída da embarcação quase não o deixou passar. Num gesto simples feito com a mão, ele pediu passagem. Segurou a tranca da grossa porta de ferro e, com firmeza, puxou-a certificando-se de que não havia perigo.
Ele abriu caminho e todos saíram às pressas subindo a rampa de metal.
Ele saiu da embarcação e olhou para mim. Sorri acenando com a mão e, num instalo, tudo pouco a pouco foi sumindo.
Lembrei desesperadamente que ele já se foi e uma saudade avassaladora apertou meu peito… Chorei.
* Nicy Alves escreve aos domingos na Tribuna da Praia
(1) Essa crônica é dedicada ao meu pai Antônio Alves Santos ( in memoriam), ex marinheiro da empresa SERGIPORTOS..