Crônica: O ROUBO DO DOCE DE BANANA – Peguei o cabo da colher de pau e, com muito cuidado, consegui abrir o …

Crônica: O ROUBO DO DOCE DE BANANA - Peguei o cabo da colher de pau e, com muito cuidado, consegui abrir o ...

Nada se comparava aos olhares tenebrosos daqueles que torciam para que a dieta desse certo.

* por Nicy Alves

A história começa há alguns anos, quando tive de iniciar uma dieta e emagrecer a todo custo – o projeto ainda não deu certo (risos).

Tudo era muito difícil. Sucumbir aos deliciosos pães, bolachas, lasanhas… Enfim, coisas que não sei quem inventou: Deus ou o diabo.

Nada se comparava aos olhares tenebrosos daqueles que torciam para que a dieta desse certo. Bem, aqui vamos nós.

Numa linda tarde de sábado, era de costume ir à casa de mamãe–lugar simples, mas confesso que na mesa e geladeira comida gostosa não faltava. Mamãe e papai tinham talento próprio para cada preparo, porém papai ficava bem longe dos enormes caldeirões de doce que dona Lenaide, com suas mãos mágicas, preparava.

Os doces eram cozidos num fogão à lenha construído por papai no fundo do quintal, mas mamãe não permitia que ele degustasse, não por maldade – ele sofria de diabetes. Logo ele que amava doces.

Assim que cheguei ao portão da casa, o danado do aroma veio me receber. Era de ir ao céu e voltar. Imaginei logo: “o bicho hoje vai pegar”.

Entrei, pedi a benção (coisa sagrada até hoje) à mamãe que estava próximo à máquina de costura. Nesse momento, minha mente não conseguiu dominar meus pés e, num instante, já estava no quintal.

Peguei o cabo da colher de pau e, com muito cuidado, consegui abrir o enorme caldeirão e ver uma linda espuma rosada: era sinal de que o doce estava quase no ponto. Mas ao tentar recolocar a tampa de onde nunca deveria ter tirado, a danada da colher escorregou e, pronto, o alerta de que tinha gato em cima do fogão bateu e mamãe parecia uma mulher encantada – antes mesmo de um piscar de olhos, ela já estava em cima de mim.

–Tire os olhos daí, você não vai nem beliscar. Já esqueceu que tá de dieta?

Um sentimento de tristeza me arrebatou. Ela pegou a enorme colher, deu uma mexida bem delicada no doce e, percebendo que acabara de ficar pronto, chamou papai e pediu pra retirar o caldeirão do fogão de lenha e colocar em cima do fogão a gás para esfriar.

Após o término da tarefa, mamãe convidou a todos pra sentarem-se à porta do vizinho de frente porque já havia sombra no local. O calor estava me matando, mas confesso que fui a contragosto.

Papai resolveu deitar-se no quarto e ligar o ventilador, como era de costume. Porém, essa atitude foi minimamente estratégica.

Após um bom tempo na fresca (mas o pensamento no doce), resolvi dar início ao meu plano. Levantei rapidamente, dizendo que estava apertada pra ir ao banheiro e corri em direção ao portão.

Chegando à cozinha, o aroma continuava. O caldeirão estava envolvido num pano extremamente branco. Com muito cuidado, um olho no caldeirão e outro no corredor, caprichei nas colheradas. Enchi meu copo até onde pude. Peguei uma colher e resolvi me esconder no fundo do quintal, na barraca do fogão à lenha. Mas ao chegar ao meu esconderijo, percebi que não tinha sido eu a única pessoa que resolveu roubar o doce de banana. Esbarrei-me com papai, que não dava descanso na colher. O susto foi tão grande de nós dois que nosso doce quase parou no teto. Não deu outra e caímos na gargalhada, o que acabou trazendo todos para dentro de casa e, assim, DESCOBRIRAM O NOSSO TÃO PRECIOSO SEGREDO.

* Nucy Alves escreve aos domingos na Tribuna da Praia

(1) Esses e outros textos você encontrará na página – https://m.facebook.com/poetanicyalves/

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