Euforia e medo ainda se faziam presentes em nós quando os pescadores chegaram (1)
- por Nicy Alves
A noite estava gelada, o vento soprava forte e as ondas do mar levantavam vôo como uma sinfonia orquestrada.
Como morávamos na praia, o jantar era servido cedo, no final da tarde. Os homens tinham combinado uma pescaria ao anoitecer. Segundo eles, a lua favorecia essa empreitada e, possivelmente, prometia um farto café-da-manhã com peixes e camarões fritos, acompanhados de um delicioso cuscuz de milho. Da varanda do pequeno sobradinho, montado com sobra de madeira, eu, minha irmã Júlia, meus sobrinhos e meus filhos mantínhamos o olhar fixo nos pescadores, que seguiam em direção um ponto estratégico. Era ali, à beira mar, próximo a um hotel, que as redes eram lançadas e arrastadas com maestria.
Ali, sentados, ficávamos na expectativa da finalização do primeiro lance. Após algumas horas, dali de onde estávamos, percebemos movimentos típicos de retirada de rede. De longe, víamos somente alguns pontos que a lua iluminava. Com a curiosidade própria do ser humano, caminhamos para ver, de perto, aquela rede sair da água cheia de peixes e camarões saltitando na areia. Infelizmente o lance não foi bem assim; apenas peixinhos pequenos.
Fomos orientados a voltar para nosso abrigo, pois começou a chuviscar de repente e provavelmente ficaria mais forte. À medida que nos distanciávamos dos pescadores, a chuva diminuía como se fosse levada pelo vento. E nessa hora resolvi contemplar a lua e as estrelas, que bordavam o céu com uma beleza de encher os olhos. A poucos metros da casa, surgiu repentinamente um ponto luminoso de brilho forte que mudava de posição e tamanho rapidamente.
Apressamos os passos, naquela areia fofa da praia, segurando as mãos uns dos outros, assustados, sem saber exatamente o que era. Aquela enorme “coisa” pairava sobre os coqueiros tremulandos suas palhas por causa do vento forte. Era como se um helicóptero fosse pousar sobre nossas cabeças, de tão perto que estava. O medo tomava conta de nós. Minha irmã desesperada começou a chorar e eu, também nervosa, tentava controlar a situação para não criar pânico nas crianças que não entendiam nada.
Tentávamos correr, entretanto aquele Objeto Voador Não Identificado tinha o poder de deixar-nos paralisados, na areia, como se os pés não tocassem nela. O OVNI era enorme com círculos luminosos coloridos que giravam em sentidos contrários, numa frequência impressionante. Não sei quanto tempo durou tudo isso. Lembro apenas que sumiu em direção às estrelas da mesma forma que surgiu, rapidamente.
Ficamos ainda alguns minutos ajoelhados na areia, boquiabertos, olhos arregalados, tentando recuperar o fôlego. Entramos em casa, fechamos portas e janelas com trancas e travessas que havia por perto. Olhamo-nos sem entender nada.
Euforia e medo ainda se faziam presentes em nós quando os pescadores chegaram. Contamos a situação pela qual tínhamos passado, porém fizeram pouco caso de nossa história. A preocupação deles agora era separar o resultado da pescaria, lavar as redes e degustar a garrafa de aguardente com os pequenos cajus que levavam pra passar o frio na beira da praia.
Restou-me apenas registrar e perpetuar, para meus netos, nesse livro, um momento único e desesperador. Até hoje creio que foi milagre dos céus um de nós não ter sido abduzidos.
De uma coisa tenho certeza: não estamos sozinhos nessa IMENSIDÃO CÓSMICA.
- Nicy Alves escreve aos domingos na Tribuna da Praia.
(1) Esses e outros textos você encontrará na pág.
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