Não é difícil ouvirmos por aí, baseado em uma certa retórica liberal, que o sucesso de países como Vietnã, Cuba, Coreia Popular (Coreia do Norte) e também, a Venezuela, em relação ao controle da pandemia de COVID-19, se dá por conta de: “serem países muito fechados, países com regimes políticos totalitários, por isso é mais fácil controlar a população e omitir dados”, etc, etc. Mas, esse tipo de “argumento” baseado em uma falsa lógica, faz algum sentido? Veremos que não!
Vejamos; sendo fato concreto que o êxito dos países citados se dá por ocasião às políticas de combate, contenção e tratamento implementadas desde o início da crise, e que a lógica da dinâmica organizativa social vigente por lá, buscam caminhos diferentes dos que se articulam aqui, em todo o país, analisemos o caso do nosso Estado e busquemos compreender como em Sergipe o desenrolar trágico da crise, resulta das políticas aplicadas na nossa dinâmica organizativa social que tem como lógica de funcionamento a acumulação e os lucros privados. E tentaremos entender como os resultados desses tipos de políticas públicas que vigoram por aqui, não poderiam surtir resultados diferentes dos que podemos infelizmente constatar. O menor Estado do país esbanja números gigantes quando o assunto é coronavírus.
Em 29 de março, Sergipe registra sua maior taxa percentual de adesão ao isolamento social até aqui.(um pouco acima de 50%) Em 31 de março, Sergipe tinha apenas 20 casos da doença e até então nenhum óbito provocado por complicações em consequência da COVID-19. A primeira morte ocorre no dia 02/04.
De acordo com os dados divulgados pelo Mapa Brasileiro da COVID-19, no início de junho, Sergipe já registrava o crescente número de 9.290 casos da doença e 217 mortes. Em 08/06 se registrava no estado o segundo pior índice de isolamento social do país. ( 44,2%)
Ou seja, em muito pouco tempo, o índice de isolamento( que ainda era abaixo dos 70% recomendamos pela Organização Mundial da Saúde, OMS) no estado, despenca vertiginosamente.
A essa altura, Sergipe já se torna um trem desgovernado com todos os seus vagões carregados de puro descaso, incompetência e falta de interesse em se estabelecer uma política séria e eficiente que tenha como horizonte a preservação da vida acima dos lucros privados.
O resultado não poderia ser outro. O número de infectados pelo vírus aumenta por conta da queda no índice de isolamento social, em consequência, a taxa de ocupação dos leitos de UTIs públicos e privados sobe e, os óbitos por Covid disparam assustadoramente.
A consequência dessa tríade nefasta é o salto absurdo no agravamento da crise, que provoca, em pouco menos de dois meses, um aumento de mais de 50 mil novos casos e mais 1.231 mortes por complicações da doença.
Em 01/08 quando a Secretária de Estado da Saúde (SES) informa o alarmante panorama da pandemia em Sergipe, atinge-se o absurdo número de 59.724 casos e 1.448 óbitos.
Obviamente, essa tragédia sanitária em um estado pequeno em tamanho e enorme em falta de políticas públicas eficientes que garantissem à maioria dos trabalhadores as condições adequadas para uma quarentena, de fato, não é obra do acaso; nem é como um raio em céu azul que, “poderia” acontecer sem nenhuma previsão. É sim, resultado de políticas ineficazes, de políticas irresponsáveis de caráter genocida, ou seja, de políticas capitalistas. Quando desde o início da crise, se coloca pela maior parte do empresariado sergipano a posição contrária ao isolamento social e pela reabertura da economia, pressionando o governador Belivaldo Chagas (PSD) e o fazendo ceder, mesmo ele tendo em rede de televisão estadual afirmado que não cederia a pressões para flexibilizar o isolamento, (lá no início da crise) a tragédia sanitária se constrói de forma totalmente consciente e as consequências quem sente de modo mais avassalador é a classe trabalhadora que tem, em detrimento de suas próprias vidas os interesses dos capitalistas sergipanos atendidos, mesmo que sorrateiramente, pelo governo do Estado.
Sabemos que o vírus não faz distinção entre quem ele vai infectar. Mas, sabemos também que, quem mais está sendo afetado são os trabalhadores, que continuaram lotando os ônibus e terminais diariamente, ( na capital Aracaju, desde o início da crise a frota de ônibus foi reduzida) seguiram tendo que ir para rua garantir o pão de cada dia pois, devido a alta taxa de desemprego, 14,8% (no quarto trimestre de 2019) assumindo para Sergipe junto com Roraima o posto de terceira pior do país, ficando atrás apenas da Bahia e Amapá, também faz com que Sergipe atinja o patamar de o sétimo Estado brasileiro com a maior taxa de informalidade 54,4% (segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, PNAD, divulgado em 14/02). A tragédia vai se construindo e definindo a camada social que irá sentir as consequências. Outro ponto crucial também no agravamento da crise para a classe trabalhadora sergipana foi a dificuldade em se conseguir ter acesso ao auxílio emergencial de 600 reais, (lembrando que o Guedes e Bolsonaro só queriam liberar 200) provocando filas quilométricas, as verdadeiras filas da morte.
Desse modo era de se esperar que o impacto da pandemia fosse maior nas periferias do que nas áreas “nobres” da cidade, pois é nas periferias onde reside a esmagadora maioria da classe explorada e oprimida pelos capitalistas sergipanos. Claro, também é nas periferias onde se encontram as piores condições de saneamento básico, acesso a água tratada, sistema de esgoto, etc. Um prato cheio para a propagação de um vírus com o potencial de infecção rápido, como o coronavírus.
Diante desse cenário catastrófico de tragédia social, o governo de Sergipe segue seu plano de reabertura da economia. Pressionado desde o início, o governador traça seu plano de volta a “normalidade”. Em 05 de agosto, Belivaldo anuncia a reabertura dos shoppings centers, galerias e centros comerciais que poderão retomar suas atividades presenciais a partir do dia 14/08.
Em nenhum momento foi cogitado por parte do poder público a decretação de um Lockdown, mesmo com a capacidade dos leitos de UTIs privados tendo atingido sua lotação máxima de 100% e, os três maiores hospitais públicos do Estado já operarem com 90% da capacidade das suas Unidades de Tratamento Intensivo.
São nessas condições desastrosas, abraçado por um desprezo explícito pela vida que Sergipe segue implementando políticas capitalistas, ampliando a tragédia, e administrando a barbárie garantido os interesses do capital.
Remando no caminho oposto, países de economia planificada, como Cuba, Vietnã e Coreia Popular, obtém sucesso reconhecido por órgãos internacionais como a OMS no controle da doença, justamente por terem estabelecido, em tempo, políticas sérias e eficazes de contenção a propagação e disseminação do vírus, garantido a seus cidadãos o direito a quarentena com todas as garantias necessárias. Claramente, fazendo uma comparação analisando a realidade material, observamos que, nesses países, ao contrário do que se tem por aqui, a vida está, de fato, acima dos lucros.
Vivemos tempos sombrios, tempos de incertezas, onde notadamente, diante de uma pandemia, que só acelera as consequências da crise capitalista em curso que atinge todo o mundo, os ditos países desenvolvidos, países ricos, padecem e se encontram entre o dilema dialético da contradição entre a acumulação de capitais e a garantia da qualidade de vida da esmagadora maioria das pessoas do planeta que compõe a classe produtora de riquezas, a classe trabalhadora mundial. É notório a todos os olhos mais atentos os sintomas mórbidos da decadência da velha forma de organização social, e a incompetência da mesma em garantir a vida em seu sentido pleno. São tempos de incertezas, pois o velho agoniza moribundo e o novo ainda não nasceu oficialmente. Temos pistas do que pode ser, e deve ser o futuro, pois já temos o germe da nova forma de organizar a sociedade, em construção. O futuro, só pode ser – se realmente está em horizonte a permanência da espécie humana na terra – um futuro socialista em construção do comunismo.
A pandemia do novo coronavírus deixa visível, ainda mais, o quanto a sociedade burguesa– capitalista é incapaz de atender os interesses e garantir a todos uma existência digna. É impossível seguirmos sob a lógica dominante da acumulação, dos lucros privados, da exploração da força de trabalho da maioria que proporciona a extração da Mais-valia, em consequência, garante a acumulação de capitais, e pensarmos de fato em um futuro próspero para a humanidade.
A única via possível do ponto de vista material, concreto, fugindo de qualquer concepção idealista da realidade, passa pela construção do Poder Popular, pela organização da classe produtora, e pela conquista do poder político e econômico pelos trabalhadores, só partindo desses pontos é possível construir as condições materiais que podem garantir de fato um Futuro digno para todos.
A ordem social moribunda e já agonizante não morrerá de causas naturais, não morrerá de tão caduca que já está. É preciso que o velho morra por inteiro para que o novo possa nascer, de fato.
Tomemos em nossas mãos a nossa tarefa histórica de construir caminhos diferentes dos que estão colocados. Coloquemos na ordem do dia, o atestado de óbito da velha sociedade que, ao contrário do que já foi um dia, hoje, reacionária e incapaz de ter solução, carece do disparo final, que liquidará de vez o velho modo de produzir e reproduzir a vida.
Que morra o velho e nasça o novo!
FORA BOLSONARO/MOURÃO
PELO PODER POPULAR RUMO AO SOCIALISMO
por Marcos Aurélio. trabalhador autônomo, tatuador e militante do PCB em Sergipe
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É isso mano!